domingo, 4 de maio de 2014

O domingo de futebol perdeu o charme depois das tais arenas confortáveis padrão FIFA....




Num Domingo de finais nos campeonatos estaduais brasileiros, reproduzimos trechos de um texto de Humberto Miranda, professor de Economia da UNICAMP. Em tempos de Copa, eis uma importante reflexão.


O domingo de futebol perdeu o charme depois das tais arenas confortáveis padrão FIFA....


O domingão de futebol, depois da praia, em que o pai leva o filho e o filho vai com os amigos acabou.

Futebol no estádio só na quarta-feira ou na “quinta-feira de cinzas”.

A platéia que assiste ao jogo quer outra coisa.

Dizem: paguei para ter isso… para ver aquilo…e para fotografar tal jogador ou postar seu momento de torcedor nas redes sociais.

O torcedor momentâneo, passageiro da decisão do campeonato e não um fiel contínuo da arquibancada. 

Mais que elitização dos estádios, ocorre um processo de “gentrificação” (público com renda ou status diferenciado) das torcidas nos estádios brasileiros que cria essas estratégias socialmente apartadoras.

A torcida de massa ou o torcedor-povão, como se dizia em Salvador, está acabando.

A tribalização de boa parte dos torcedores mais pobres também multiplica os grupos de pressão/coerção em torno dos clubes, rebelando-se contra a perda de privilégios distorcidos e antigos, mas também que se ressentem da ausência de uma política do clube mais ampla que simplesmente a de ser sócio-torcedor, querem ser o torcedor-associado e participativo.

Os torcedores da geral desapareceram e os arquibaldos deixaram de diferenciaram-se enormemente.

Gostaria que esses processos refletissem um avanço nas relações sociais fruto de um novo patamar de desenvolvimento baseado na extensão de benefícios sociais, redução de desigualdades crônicas, alargamento do espaço público e oportunidades econômicas ampliadas. Mas não.

Trata-se apenas de ser um consumidor-torcedor.

Nem parece que o objetivo é encher os estádios, mas viabilizar determinados negócios numa única mão: a gentrificação das torcidas.

A própria palavra desenvolvimento foi deturpada pelos investimentos voltados para a realização da Copa 2014 e qualquer projeto de equipamento urbano, como o estádio de futebol, vira sinônimo de desenvolvimento local.

É a linguagem enganadora da malandragem esportiva de colarinho-branco.

Isso na verdade encobre o caráter privado-particular de vários empreendimentos, como se o setor privado não precisasse seguir regras, nem leis.

As tais parcerias público-privadas são feitas para por dinheiro público em negócios privados e não os negócios privados sob o controle público.

A palavra parceria virou sinônimo de patifaria.

“Público(a)” é outra palavra amaldiçoada nas redes sociais.

Esse segmento conectado da sociedade não faz a mínima noção do seu significado, ou melhor, faz mas no sentido negativo.

A própria concessão pública, requisito necessário para navegar pelas redes, não é vista assim.

E essa lógica se expande pra todo lado.

Só o povão nos salva e nos salvará dos alvarás negociados por empreiteiras e que ordenam a segregação social das arenas com separação de torcidas e de facções de torcedores.

Levar o povo ao estádio, sinônimo de uma parceria, aí sim, para garantir conforto a todos não veio e nem virá.

Ao povo sobrou o monopólio das redes de tevê, perpetuando uma “massificação segmentada” e esteticamente duvidosa.

Como se nossa população fosse exótica aos olhos dos mundo. Um paraíso fabricado.

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